O Brasil precisa de um marco legal para fortalecer
as bibliotecas, que imponha padrões de estruturação, esclareça as diferenças
entre as tipologias e missões existentes e estabeleça recursos orçamentários
permanentes para investimento. Desta forma, elas não ficarão à mercê do empenho
de gestores engajados ou não e poderão ser instrumento de mudanças na
sociedade.
Esta foi a tônica do debate realizado nesta
quinta-feira (10) pela Comissão de Educação, a pedido do senador Cristovam
Buarque (PDT-DF), para coletar sugestões que embasarão uma lei para fortalecer
essas instituições. Isso permitirá, segundo os debatedores, que elas se tornem
verdadeiros centros de estímulo à leitura e ao conhecimento e braços para o
desenvolvimento social, e não apenas depósitos de livros.
- Como vamos ter cidadãos críticos, que façam uma
reflexão sobre sua própria realidade, se ele não tem competências para usar a
informação e reconhecer, saber o que de fato vale, qual a fidedignidade,
avaliar se é plantada com outros objetivos, seja ideológico, político ou
econômico, e saber fazer um discernimento claro sobre aquilo? Não vamos
conseguir se não houver uma ação de escola, professores e bibliotecas nesse
sentido – afirmou Marta Ligia Valentim, professora do Departamento de Ciência
da Informação da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Os participantes da audiência apoiaram o projeto do
senador Cristovam de federalizar a educação de base. Segundo eles, pelas
diferenças regionais e de desenvolvimento existentes no Brasil, somente com
atenção federal a educação, e por consequência as bibliotecas, poderão ganhar
um salto de qualidade.
- Essa revolução educacional não virá se nós não
fizermos a federalização da educação de base. Enquanto a educação estiver nas
mãos dos pobres prefeitos, pobres e desiguais, a gente não vai ter a escola que
deve. A União tem que assumir isso. E assumir as bibliotecas das escolas como
uma questão nacional, e não como uma questão estadual e municipal – disse o
senador.
Biblioteconomistas.
Os debatedores também ressaltaram a importância do papel do biblioteconomista
como mediador e sistematizador do conhecimento que as bibliotecas podem
oferecer. Para Angélica Miranda, pró-reitora de Extensão e Cultura da
Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a biblioteca tem papel fundamental
para a diminuição do analfabetismo digital. Ela ressaltou a participação e o
auxílio do bibliotecário nessa mudança.
A
professora também citou como exemplo do poder de mudança social da biblioteca o
morador de rua de Pernambuco que, ao utilizar uma instituição pública para
estudar, conseguiu concluir o ensino regular e ainda passar em um concurso
público.
A
presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia, Regina Céli de Sousa,
afirmou que uma das principais ideias a ser desmistificadas é a de que a
biblioteca é só um armazém de livros ou depositório de acervo bibliográfico.
Segundo disse, sem pessoal qualificado para transformar conteúdos em bens
culturais a ser ofertados continua e sistematicamente a seus usuários, por meio
de serviços de consulta e empréstimo, as bibliotecas não contribuirão para a
democratização da cultura e do conhecimento e a formação dos cidadãos.
Um
importante passo para garantir o acesso à leitura e à cultura pode ser dado com
a discussão do Plano Nacional de Livro e Leitura, projeto retomado pelo governo
federal que pretende democratizar o acesso aos livros, defendeu José Castilho
Marques Neto, secretário executivo do Programa Nacional do Livro e da Leitura
do Ministério da Cultura. Para isso, além de bibliotecas públicas
estruturadas, com acervo e instalações adequadas, são necessários profissionais
que farão a mediação, apresentando o conhecimento ali guardado aos usuários,
dando à biblioteca seu sentido pleno.
-
O bibliotecário necessita ser mediador da leitura – defendeu.
Por: Elina
Rodrigues Pozzebom
Fonte: senado.gov.br