A
revisão bibliográfica é a base que sustenta qualquer
pesquisa científica. Acredite: algumas horas a mais na biblioteca podem
poupar alguns meses de trabalho no laboratório ou a campo. Para
proporcionar o avanço em um campo do conhecimento é preciso primeiro
conhecer o que já foi realizado por outros pesquisadores e quais são as
fronteiras do conhecimento naquela
(Vianna, 2001).
Desta forma, a revisão bibliográfica é indispensável para a delimitação do problema em um
projeto de pesquisa
e para obter uma ideia precisa sobre o estado atual dos conhecimentos
sobre um tema, sobre suas lacunas e sobre a contribuição da investigação
para o desenvolvimento do conhecimento
(Lakatos e Marconi, 2010).
Além de auxiliar na definição dos objetivos da pesquisa científica, a
revisão bibliográfica também contribui nas construções teóricas, nas
comparações e na validação de resultados de trabalhos de conclusão de
curso e de artigos científicos
(Medeiros e Tomasi, 2008).
Realizar uma revisão bibliográfica faz
parte do cotidiano de todos os estudantes e cientistas. É uma das
tarefas que mais impulsionam o aprendizado e o amadurecimento na área de
estudo. Atualmente, as bibliotecas digitais têm facilitado e
simplificado muito essa tarefa, pois trazem recursos de busca e
cruzamento de informações que facilitam a vida de todos.
Mas
as novas tecnologias não resolvem tudo. Por isso, preparamos este guia
com algumas considerações importantes sobre a revisão bibliográfica.
1. Saiba aonde quer chegar
Todo
texto acadêmico precisa de um “fio condutor”, uma linha de raciocínio
que guie a leitura do texto, levando o leitor das premissas às
conclusões. Assim, antes de começar a revisão bibliográfica, leia os
chamados “livros clássicos” sobre o tema, para descobrir/relembrar os
conceitos e as ideias principais relacionados ao seu trabalho
(Cervo e Silva, 2006).
Com
uma visão geral sobre o tema, e com os pontos principais em mente, é
possível elaborar um roteiro para a revisão bibliográfica, com os itens e
subitens que o texto deverá ter para chegar à sua conclusão. Este
roteiro é de grande ajuda para manter o foco e não se perder em meio à
enorme quantidade de informações a que temos acesso.
O segredo de uma boa revisão bibliográfica é a organização e o planejamento
(Santos, 2015).
2. Selecione as fontes de referência
As
principais fontes a serem consultadas para a elaboração da revisão
bibliográfica são artigos em periódicos científicos, livros, teses,
dissertações e resumos em congresso
(Medeiros e Tomasi, 2008).
Como
atualmente existe uma exacerbada pressão por publicação de artigos
científicos, é bem provável que aquela tese ou dissertação tenha sido
publicada também na forma de artigo, assim como os resumos de
congressos.
Desta forma, recomenda-se
a preferência por artigos publicados em periódicos científicos, com
comitê de editores e processo de revisão por pares. Uma boa dica é
observar com cuidado as referências bibliográficas de textos já
publicados sobre o tema e, desta forma, identificar os autores e os
periódicos que são referência na área.
Dê prioridade (nesta ordem) a:
(i) artigos publicados em periódicos internacionais;
(ii) artigos publicados em periódicos nacionais reconhecidos;
(iii) livros publicados por bons editores;
(iv) teses e dissertações,
(v) anais de conferências internacionais;
(vi) anais de conferências nacionais.
Tome
cuidado com referências antigas. A ciência traz novidades em um ritmo
relativamente rápido, por isso deve-se evitar utilizar referências com
mais de dez anos. Se possível, e isso irá depender do tema pesquisado,
tente concentrar a maior parte das citações com menos de cinco anos
(Andrade, 2014).
3. Escreva a revisão bibliográfica de forma clara e objetiva
Evite
apresentar a revisão bibliográfica no formato de ficha de leitura (isto
é, o autor “A” disse isso, o autor “B” disse aquilo, o autor “C” disse
outra coisa, etc.). Encontre os pontos de concordância e divergência
entre os autores e conte a história da pesquisa. Um exemplo de texto do
tipo “ficha-de-leitura” é:
Segundo
Shingo (1996), a idéia central do Sistema Toyota de Produção é promover
um fluxo harmônico dos materiais entre os postos de trabalho,
produzindo componentes nas quantidades e nos momentos em que são
necessários. Para tanto, a comunicação entre postos de trabalho deve ser
promovida de forma eficiente.
Para
Ohno (1994), o Sistema Toyota de Produção pode ser resumido como
“produzir nas quantidades certas e no momento em que as partes são
necessárias”. O autor frisa a importância do fluxo de informações entre
os trabalhadores nas diferentes células ou postos de trabalho.
Observe
como os dois autores estão dizendo essencialmente a mesma coisa, apesar
de manifestarem suas ideias de maneira diferente. O seu trabalho como
pesquisador é compreender qual a ideia central, identificar os pontos
divergentes e pontos em comum entre os autores e escrever de forma clara
e objetiva. Os parágrafos acima poderiam ser resumidos da seguinte
forma:
A ideia
central do Sistema Toyota de Produção é promover um fluxo harmônico de
materiais entre os postos de trabalho, produzindo componentes nas
quantidades e nos momentos em que são necessários. Neste sentido é
importante promover um fluxo eficiente de informações entre
trabalhadores nas diferentes células ou postos de trabalho (SHINGO,
1996; OHNO, 1994).
Veja como o texto
fica mais fácil de ler, contendo as ideias comuns a ambos os autores
expostas de maneira direta, sem repetições. Além disso, os parágrafos
não iniciam com “Segundo Ohno (1994)” ou “Para Shingo (1996)”, ou “De
acordo com Shingo (1996)”, que são formas não muito elegantes de
redação.
4. Organize os trabalhos consultados
Para
a elaboração de uma boa revisão bibliográfica é preciso pesquisar,
selecionar e ler uma grande quantidade de artigos, livros e resumos. E
uma boa organização deste material irá facilitar encontrar determinada
ideia ou um autor específico em meio aquela salada de PDFs.
Existem
várias ferramentas que permitem gerenciar sua coleção de referências
bibliográficas e que podem facilitar seu trabalho. São os
Gerenciadores de Referências.
Exemplos importantes são o JabRef, ferramenta em código aberto e muito
útil especialmente para quem trabalha com LaTex, e o EndNote.
Essas
ferramentas permitem obter os dados das referências diretamente nas
bibliotecas digitais, criam uma base de dados com essas informações,
permitem inserir as citações e referências diretamente nos textos que
estão sendo editados, e também organizam a coleção de textos originais
dos artigos. A longo prazo, sua base de dados mantida por um gerenciador
de referências é um recurso muito valioso para procurar referências
para citar em seus textos.
5. Evite os principais erros
Errar
é humano, mas a banca avaliadora do seu trabalho normalmente
desconsidera este tipo de fato. Sendo assim, consulte sempre o seu
orientador sobre a possibilidade de estar cometendo algum dos erros
abaixo:
– revisão bibliográfica muito
breve (por pressa, falta de tempo, desinteresse, etc.); obras e autores
essenciais não foram incluídos no trabalho.
–
revisão bibliográfica construída em cima de muito poucos autores ou
estudos (normalmente, este erro ocorre em paralelo com o primeiro erro,
acima).
– áreas afins não foram abordadas na revisão bibliográfica.
–
referências incompletas ou erradas, indicando que você na realidade não
conseguiu encontrar um fio condutor nas obras que consultou.
– ausência de uma seção de conclusões que reúna as ideias principais abordadas no texto.
–
má organização do material: revisão bibliográfica com seções muito
curtas (com um ou dois parágrafos, apenas), com repetição de ideias (o
estilo “ficha-de-leitura”), ou sem uma estrutura ou lógica identificável
de apresentação.
– interpretação ou adaptação de ideias de outros autores para que elas fiquem parecidas ou reforcem as suas.
Texto adaptado por José Luis Duarte Ribeiro a partir do original elaborado por Flavio Fogliatto e Giovani da Silveira.