Um
estudante da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi premiado pelo
professor Donald Knuth, da Universidade de Stanford, por encontrar um erro no
volume I da série de livros “The Art of Computer Programming”. A recompensa, um
cheque simbólico de 0 x $ 1,00 do fictício Bank of San Serriffe, é umas mais
desejadas no mundo da computação, área que sempre atraiu o autodidata Rogerio
Pedrosa Ruivo e sobre a qual ele se debruçou depois dos 14 anos, quando deixou
a escola.
“Sempre
gostei de estudar, mas nunca tive afinidade com a escola convencional.
Considerava perda de tempo o conteúdo e a forma como eram ensinadas as
matérias. Isso desde criança. Quando tomei a decisão de não ir mais à escola,
minha família ficou chocada, mas depois entendeu que eu segui um caminho
alternativo como autodidata e me apoiou”, contou o jovem de 29 anos, aluno de
engenharia de computação em São Carlos (SP).
Foi
justamente pela família que ele ficou sabendo que tinha recebido o prêmio. “Foi
uma baita surpresa quando minha mãe me telefonou dizendo que havia um envelope
de Stanford na caixa de correio”. Sem conter a ansiedade, Ruivo pediu para o
pai abrir a carta com todo o cuidado, mas a ficha só caiu com o tempo. “Não
entenderam nada. Só depois que a notícia foi divulgada pela universidade que
eles perceberam a importância. Fui parabenizado por vários professores”.
A
divulgação e as congratulações tinham motivo: o prêmio já foi oferecido a
pesquisadores como Thomas Cormen, do MIT, e é concedido sobre uma obra listada
pela revista “American Scientist” entre as melhores do século, juntamente com
títulos como “The Meaning of Relativity”, de Albert Einstein.
“Essa
obra me fez ingressar na universidade. Eu fiquei sabendo sobre ela na internet
e fiquei intrigado pelo que diziam dela, até Bill Gates reverenciava esse
livro”, disse Ruivo. Curioso, ele adquiriu a série e, em 2014, descobriu a
falha, que passou despercebida desde 1968, quando foi lançada a 1ª edição.
"O
erro localizado diz respeito a uma inconsistência na descrição das convenções
da linguagem de programação conhecida como ‘MMIXAL’, que é uma linguagem
adotada para um computador teórico, que não foi construído fisicamente, mas
apenas utilizado como modelo no livro", explicou. “Na programação é assim,
às vezes, uma pessoa detecta um erro num programa que já foi verificado mil
vezes por outras pessoas. Por ser muito complexo, um olhar de outro ângulo pode
revelar erros que muitos não perceberam antes”, completou.
Da
percepção da falha à postagem do cheque, cerca de um ano se passou e, nesse
período, Ruivo sabia que sua colocação estava sendo verificada criteriosamente,
daí a surpresa com a chegada da carta. “Fiquei muito feliz, pois sou fã do
Knuth”, contou o futuro engenheiro, que já definiu que vai enquadrar o prêmio,
seu “tijolo” no “edifício” da computação.